A eleição de Trump (e a vergonha de ser... português)
Acabei a terça-feira triste, comecei a quarta-feira revoltado. Vamos por partes: Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. Pela população dos Estados Unidos. Em democracia. A opinião sobre se era ou não a melhor opção para os norte-americanos, fica para cada um. E pode ser partilhada, claro. As redes sociais ajudam a isso.
O direito à opinião (ainda) nos assiste, a todos e a qualquer um. Agora o direito à ofensa... isso não. Chamar estúpidos aos americanos é, para mim, um exagero. Uma falsidade, até. Que direito tem um qualquer português, sentado na sua secretária, ou a caminho do seu trabalho, de smartphone na mão, de tecer juízos de valor sobre uma pessoa de outro país que, exercendo o seu direito ao voto, escolheu quem, para si, era a melhor (ou a menos má) opção para governar o país onde reside, onde provavelmente terá nascido, onde paga os seus impostos?
Mais: que direito tem um português de colocar em causa a eleição democrática num país quando, no seu, foi eleito Primeiro-Ministro um político que, nas urnas, e na prática, perdeu?
E acrescento outro dado: quantas das centenas (arrisco a dizer milhares) de pessoas que ofenderam, tanto presidente como população, dos Estados Unidos após conhecidos os resultados das eleições, sabe de facto o background de Donald Trump e, sobretudo, de Hillary Clinton? E dessas dezenas (vá, centenas) dos que sabem, de facto, os antepassados dos candidatos, conhecem realmente como funcionam as eleições nos Estados Unidos? Quantos sabem, por exemplo, o que é o Colégio Eleitoral? E porque raio os norte-americanos votam a uma terça-feira?
Leiam, amigos. Leiam muito. Formem a vossa opinião. A vossa própria opinião. E, claro, partilhem com os outros as vossas conclusões. Agora, por favor, não insultem quem exerceu o seu direito de ir às urnas e quem teve a coragem de avançar para um dos mandatos mais difíceis da história do pior país para se governar.